1.
O analógico vive.
O que o digital matou foi a graça, a mágica, a poesia.
Ele vive no instantâneo revelando entre os dedos.
Vive na ansiedade de ver como ficou.
Nas fotos que temperam a mesa de domingo.
No retrato do ex riscado com esferográfica.
Na imagem cortada ao meio depois de uma briga.
Amareladas, desbotadas, enrugadas.
Essas fotos contam histórias pelo tato.
Histórias que não estão no mural do face,
mas no mural do quarto.
Com local, data e hora anotados na borda.
Pra reviver de vez em quando.
Pra beijar tentando sanar uma saudade.
Pra compartilhar com os amigos de verdade:
os que frequentam a sua casa.
Histórias ao alcance das mãos. Dos olhos. Do coração.
Nunca esquecidas no fundo de um HD.
Fotos são para tocar.
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Tem gente guardando foto na nuvem.
Prefira as paredes.
Os álbuns.
As gavetas.
Nuvens não são confiáveis nem pra prever o tempo.
Imagine pra guardar memórias.
Elas se transformam, se reinventam, mudam de forma toda hora.
Email.
Backup.
Rede social.
Tudo é nuvem.
Levando as fotos pra longe das suas mãos.
Transformando-as em megabites,
num servidor qualquer no Vale do Silício.
É hora de reassumir o controle.
De não ser pego de surpresa pelo piripaque da tecnologia.
Clique.
Revele.
Guarde.
Encha suas gavetas.
Elas não sofrem piripaques. No máximo, dá cupim.
Mas cupim gosta bem menos de foto do que hacker.
Fotos são para tocar.
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